Ondine
“Ondine”- Estados Unidos, 2010
Direção: Neil Jordan
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As sereias são seres mitológicos muito antigos. Já na época dos primeiros gregos falava-se delas como a incorporação da mulher fatal. Seu canto levaria os pescadores à morte. Os homens seriam seres indefesos face à atração do seu canto pois, ouvindo-o, atiravam-se às águas, afogando-se em busca das delícias prometidas pelo seu canto sedutor.
O mais famoso herói da Grécia antiga, Ulisses, teria sido o único mortal a ter conseguido escutar o canto das sereias e sobrevivido graças ao estratagema de ensurdecer os marinheiros com cera de abelhas nos ouvidos e atar-se com cordas ao mastro da embarcação que rodearia a rocha das sereias. Escutado o canto e poupado da morte pelos marinheiros “surdos”, que não o desataram do mastro, já que não ouviam suas súplicas, Ulisses representa o homem inteligente que consegue satisfazer os seus desejos, sem atrair para si a morte invejosa.
É com uma versão dessa história que brinca o filme ”Ondine”.
Estamos na Irlanda de Neil Jordan, diretor dos famosos “The Crying Game” (1992) e “Entrevista com o vampiro”(1994 ). É ele que assina a direção do filme que usa o nome das sereias da França, que significa “aquelas que vem do mar”.
Estrelado pelo ator irlandês Colin Farrel, o filme “Ondine” conta uma história na qual um pescador, Syracuse, lança uma rede ao mar e pesca uma “sereia”, vivida pela bela cantora de origem polonesa, mas nascida no México, Alicja Bachleda.
A filha do pescador, Annie (Alison Barry), que sofre de insuficiência renal, menina inteligente mas carente, que mora com a mãe e vive numa cadeira de rodas, acredita que a mulher pescada pelo pai é uma “selkie”, ou seja, uma foca/mulher que, desvestida de sua pele, a enterra para poder viver um romance no mundo dos humanos, por sete anos. O melhor disso tudo seria que o desejo de uma dessas “sereias”conseguiria transformar a pobre Annie, que usa uma cadeira de rodas, em pessoa saudável e ao mesmo tempo curar o alcoolismo do pescador , seu pai, por amor.
Estamos longe da “sereia” fatal da Grécia. O mito da “selkie”, derivado daquele que gerou a sereia do mar Egeu, seria regenerador na Escócia e Irlanda.
A bela fotografia de Christopher Doyle aumenta o poder de sedução da lenda e faz com que Ondine seja no filme o centro de atenções do pai e da filha.
Sentimos, porém, que algo vai mal porque a fotografia abusa dos tons aquosos turvos e das silhuetas escuras que aumentam o mistério em torno à verdadeira identidade de Ondine.
Mas a história encanta até o fim porque o mundo das águas impera com sua magia e esperança, através dos olhos de uma menina que ama o pai e que quer vê-lo feliz e domesticado por uma criatura da natureza selvagem, uma foca encantada, uma “selkie”, que a faria tornar-se saudável e feliz. Porque ninguém melhor que uma criatura dessas para entender o desejo de Annie de voltar a andar pelas próprias pernas.
O tema do ser encantado, que libertado, concede desejos aos humanos responsáveis por essa liberdade, tal qual o gênio da lâmpada de Alladin, é base de muitas histórias que até hoje são contadas às crianças por adultos que ainda se lembram delas.
“Ondine”, o filme que fala do mundo dos seres das histórias míticas, pode agradar a muitos humanos românticos, que ainda acreditam e esperam que seus desejos se realizem, de uma forma ou de outra.