Ripley

“Ripley”- Idem, Estados Unidos, 2024

Direção: Steven Zaillian

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“Ripley” é um personagem criado pela escritora Patricia Highsmith (1921-1995), muitas vezes mostrado no cinema.

Assim, o belo Alain Delon, dirigido por René Clement em 1960, faz um personagem sedutor e sinistro em “O Sol por testemunha”. Em “O talentoso Ripley – The talented M. Ripley”, 1999, dirigido por Anthony Minghella, Matt Damon é um garotão que ama coisas caras e belas. Ele age impulsivamente, quando não tem saída.

O atual, dirigido por Steven Zaillian, que ganhou um Oscar pelo roteiro de “A Lista de Schindler”, traz à tela um ser misterioso, que tenta entrar num circulo social que não é o seu.

A sorte o brinda e ele conhece o pai de Richard Greenleaf, (Johnny Flinn) “bon vivant” que escapa de Nova York para a Europa, para viver como gosta. O pai, armador, quer que o filho volte para o negócio de construção de navios e barcos de luxo. E contrata Ripley para a tarefa de trazer de volta o filho pródigo.

O diretor Zaillian, que também escreveu o roteiro, cria um Ripley (Andrew Scott), que tem muitas caras, exímio imitador, falso, nunca diz a verdade e é muito ambicioso. Seus planos são sempre meticulosamente planejados.

Tom Ripley age para garantir uma vida cara pedida por seu narcisismo sem limites. Sua psicopatia o livra de remorsos e culpa.

Com 8 episódios na Netflix, vamos ver essa história ser contada não só com atores brilhantes mas em paisagens de sonho. A bela e antiga Itália é filmada com esmero e sofisticação em ângulos surpreendentes, num preto e branco majestoso que brilha qual prata.

O itinerário de Ripley começa pela pequena cidade de Atrani onde moram Dickie e Marge (Dakota Fanning) e segue para San Remo, Roma, Palermo, Veneza. A fotografia do filme é espetacular, quer seja da natureza, mar e rochas, praias de pedra, quer seja da arquitetura das vilas praianas ou nas esculturas gloriosas da arte greco-romana.

E o roteiro faz uma ligação de Ripley com Caravaggio (1571-1610), mostrando o nosso personagem buscando algo nas telas que encontra nas igrejas. Maior pintor do Barroco, Caravaggio levou uma vida agitada frente à acusação de ter matado um homem. Ripley identifica-se com a sorte do pintor? O claro/escuro das telas parece apontar para zonas de sombra nos dois homens. Aliás em todos nós. Há sempre a escolha. Mas neles havia contrastes de luz e sombra dramáticos.

“Ripley” tem beleza mesmo no grotesco. Um filme excepcional.

Sob o sol da Toscana

“Sob o sol da Toscana”- “Under the Tuscan Sun”, Estados Unidos, 2003

Direção: Audrey Wells

Ela foi a última a saber que o marido a traia e queria o divórcio.

Frances, uma bela mulher de uns quarenta anos, vive em São Francisco e é escritora. Mas aceitou trabalhar para que o marido, supostamente também escritor, pudesse escrever em casa. Ela caiu das nuvens com a notícia. E entrou em depressão.

Pior, teve que deixar o apartamento em que vivia e ir morar num estúdio pequeno e sem graça, onde ficam os divorciados sem teto.

Mas Frances foi salva dessa vidinha que a esperava porque sua amiga Patti (SandraOh) fica grávida e dá sua passagem para uma excursão pela Itália para a recém divorciada. Frances hesita mas aceita.

E lá em Cortona, cidadezinha agradável na Toscana, ela manda o ônibus parar porque descobre uma linda vila italiana que está à venda. Foi paixão à primeira vista. Frances precisava de um lar mais que tudo na vida.

E, como a casa pedia uma reforma vamos ver ela, animada, contratando poloneses ilegais e simpáticos para o trabalho braçal. Ela tinha que tirar da cabeça suas tristezas e nada melhor do que um trabalho duro entre gente esforçada e apreciadora do seu talento na cozinha.

O corretor que vendera a vila para ela estava sempre disposto a acudir nas emergências. Estava encantado com Frances mas, casado e feliz, flertava com ela, mas só.

Frances tinha conseguido companhia. Eram quase uma família naquela vila. Mas faltava um amor na vida de Frances.

E vamos ver então o que acontece com Frances na terra dos homens galanteadores.

O filme é leve, divertido e Dane Lane como Frances nos encanta com seu sorriso maroto e olhar sexy. Ela é o centro das atenções naquela cidadezinha italiana onde todos se conhecem.

Os personagens secundários são bem escolhidos e suas histórias se entrelaçam com as de Frances. Assim temos Raul Bova que faz Marcello, bonitão e sedutor, Lindsay Duncan como Katherine, mulher fatal, que é doida por chapéus e cita Fellini com quem diz que aprendeu tudo que sabe.

O filme é baseado no bestseller de Frances Mayes que conta como os cenários coloridos da Toscana e a gente do local a ajudaram a sair da depressão e ter esperanças de começar uma vida nova.